Transeuntes

terça-feira, 16 de outubro de 2007


Colo
Hoje as letras não abundam de paradoxos,
nem contemplam olhares, nem sequer elevam pensamentos,
A exteriorização do mundo faz-se também através da consciencialização das nossas necessidades.
Comer, beber, dormir...
abrigar, proteger, defender...
acarinhar, acolher, pertencer...
confiar, respeitar, gostar,
realizar, satisfazer, desenvolver...
Afinal, somos seres iguais...todos lutamos pela procura da concretização das mesmas necessidades...Maslow, analogamente a tantos lutadores pela defesa dos direitos humanos, teve o mérito de nos igualar não tanto através de direitos e de obrigações mas antes pelas nossas necessidades.
Quem de nós numa noite escura como a que a lua pinta lá fora,
após um dia de confusões intermináveis, comportamentos humanos complexos, desejos ilusórios,
não sente o desejo tão singelo de um simples colo?
A racionalidade é cinzenta, a dor escura...
O colo tem cores múltiplas...
de um avental axadrezado cheio de nódoas de gordura da mamã,
de umas calças castanhas gastas pelo tempo do papá,
da saia às pregas da tia que nos viu crescer,
de uma visita do senhor de barbas brancas que se vestiu de vermelho no dia de natal,
da bata branca da senhora professora que encostamos as lágrimas no primeiro dia de aulas,
da saia amarela da avó Zídia que ternamente nos convencia a ir para a escola em dias de teste,
do vestido colorido de um vizinho que nos abraça para soluçarmos,
das calças de ganga esbotadas de um amigo que nos escuta sem interromper,
da pele do namorado que se cola à nossa e nos faz sentir seres especiais,
da camisa engomada do irmão que estava de saída para o trabalho quando nos vê chorar,
das ceroulas do avô Fonseca que connosco bebe leite quentinho,
do fato do bombeiro que nos salva do perigo eminente,
da ama que nos muda as fraldas quando fazemos chichi e choramos sem parar...
Um colo tem as cores do mundo das pessoas...e de todas elas recebemos a sensação de protecção...
O colo que hoje aclamo...é o colo da serenidade, de um Deus que fale comigo, me escute e me tranquilize...É o teu colo Jesus que hoje anseio, são as tuas palavras que servirão para me saciar e é o teu coração que apelo para me escutar...Sê o meu ursinho protector de criança, só por esta noite e, ensina-me a ser braços, pernas, coração de colo de amor..quando o sol aparecer.
Vânia

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