Transeuntes

domingo, 30 de setembro de 2007




Outono

Um pequeno arrepio trespassa-me pela espinha..
À mistura do castanho com o vermelho,
as folhas vão perdendo o verde primaveril,
vai-se a força que as prende ao ramo...
Lentamente, a cada dia, a cada noite, vão desenhando
tapetes de mil imagens, levando sonhos a cada brisa que sopra..
Desvainecendo aromas e desejos violentos de uma fantasia de adolescente...
Onde irão aterrar os resquícios de momentos únicos?
Serão fonte de fertilidade para a chegada de uma nova primavera?
Ou antes converter-se-ão em vãs quimeras levadas por uma vassoura cinzenta?
Queira poder testumunhar a passagem de passadeiras maduras a um novo jardim colorido...
O amadurecimento ao rejuvenescimento,
A uma caminhada tranquila e serena,
carregada de minutos ímpares, de sabores vários, de grãos sólidos.
Que o tempo não apague o poder das palavras,
e o espaço não empobreça a fortaleza dos momentos construídos.
Que as teclas que hoje testemunham sinfonias,
se harmonizem a cada tentativa de acção, a cada momento de toque,
que se encontrem no ponto de fuga e se entrelacem sem medo,
mesmo quando nem sempre haja melodia.
Que entre desvaneios de razão, de incertezas e de medos,
esvaireça a cegueira do mundo e resplandesça a lucidez divina.