Transeuntes

sábado, 30 de agosto de 2008

Ventos de mudança


Rastejando pelas dunas do deserto,
Sob a intensidade de tórridos raios solares,
Procurando um qualquer abrigo fortuito
Escavacando a aridez das dunas
Na incessante busca de uma fonte
Em cactos encontrei verdadeiras falácias
E na avidez de répteis a certeza de estar viva
Ininterruptamente pensando na sobrevivência
Desfaleci o corpo à temperatura abrasante
Congelei a alma em pensamentos nocturnos
Sem bússola no bolso,
Carregando o fardo de um caminho
Orientada pela Estrela Polar
E pela sombra do meu corpo jacente
Supervivente de memórias passadas
Desenhei mil vezes um só rosto na areia
Na esperança de uma metamorfose,
Da abstracção ao concreto intangível,
Dias e noites passaram,
Seres nasceram, cresceram, amadureceram e pereceram,
Das rajadas do vento, do assobio de insectos fiz música,
E, sem querer, percebi que nada mais haveria a perder,
Despida do mundo, isenta de aconchego, seca de lágrimas,
Nascia a esperança de encontrar uma rosa no percurso…
De um sinal divino que me indicasse uma poça de água
Sob as preces escutadas de um Deus generoso,
Sopraram uns ventos húmidos,
Nesse instante, senti um arrepio na pele.
Chegara o momento de seguir as sensações,
De me guiar por refrescantes massas de ar,
Ávida de uma cura,
Procurei-te.
Num ápice, chocaram violentas massas,
Tumultuosas nuvens escureceram os céus,
Estava formada uma frente,
A depressão seria inevitável.
E os contrastes uma luta interior.
Inebriada pela impetuosidade tropical,
Sobrevivente da aridez do deserto
Estranhava a serenidade do clima temperado.
Invadida por uma sensação de bem-estar,
O meu cadáver abandonava os suores angustiados,
Desvanecia a inércia de um peso deambulante.
Por magia, lentamente, o sangue fluía novamente,
Os fragmentos de mim esvoaçavam,
O tempo arquivava o passado,
O devir ficou entregue a ti.
Eis-me, neste momento, a sentir novos ímpetos
De um coração em regeneração,
Totalmente aberto aos ventos de mudança!