Transeuntes

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Iceberg longínquo


Perdoem-me, se nada consigo
Se o meu tempo não passa de uma vontade
De um desejo materno de protecção
Gentes de tenra idade, corpos debilitados e cabelos brancos

Absolvam-me por estar a uns escassos centímetros do mundo
E de não ter atingido a ponta do iceberg
Colocando as minhas palavras em porto de abrigo
Cuidadosamente estudadas para chegar a vós

No caminho fui ferida por tubarões
Não consegui defender-me nos corais profundos do conhecimento
Por diversos momentos, senti-me embalada pela corrente
Acreditando que seria capaz de atingir a costa

Hoje, já no ponto de partida
Conhecendo o longo e tortuoso caminho
Sinto-me mais longe de vos revelar
As árduas horas que trabalho para vós

Distante do Iceberg
Sinto um profundo vazio
Que me questiona o sentido
Para onde vou eu?
Sinto-me estranhamente perdida
Na imensidão das águas

Espero que a tormenta passe
Que o tempo sare a dor
Que os céus abrandem
E que a corrente me volte a trazer um caminho

Desculpem-me por um dia ter estado tão perto
Neste instante soltam-se-me todas as garras
Questiono se vale a pena continuar a mergulhar
Nos oceanos imprevisíveis da sapiência

Se voltar a terra, restar-me-á
A memória de luta de mocho
Histórias para relatar
Ou meramente
A consciência do perigo que ficou por descobrir.