Transeuntes

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Noites de Solidão

Sinto-me traída pelas minhas convicções
Que nas noites de solidão
Foram travando amizade com as minhas descrenças
Discutindo velozmente nas primeiras vezes,
As convicções proclamavam-se como imutáveis
Mas…gradualmente foram encontrando pontos em comum
E, subtilmente…
Foram encurtando as distâncias
As convicções toleraram o discurso das incertezas
Justificaram os motivos dos pontos de interrogação
Partilharam as razões da mudança
Inconscientemente…quem sabe?
As descrenças foram liderando as discussões
Classificando as convicções como monótonas
A ironia pairava nas suas palavras
E os rótulos de antiguidade e desajuste
Acabaram por escapar sem querer…
Até que as convicções cederam
E a pior das descrenças dominou
Embrulharam-se num turbilhão de emoções
A adrenalina apareceu e ficou durante horas
Mas hoje, à luz do sol
Sinto-me novamente perdida
Como se um vazio ditasse as regras
Entre a lua e o sol
Foram as convicções iludidas
Sem querer…humanamente traídas
Nas noites de solidão!

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

À distância d'um instante


Sinto neste instante a aproximação de um cumunolimbo,
Que segue em direcção a onde me encontro,
Um arrepio gélido percorre-me a medula
Todo o meu ser se imobiliza
Lentamente os meus músculos convergem
Confundem-se os membros, o tronco e a cabeça
Como se lutassem para proteger o coração
Oiço o adágio de Samuel Barber
E revejo a minha história de vida
Sob uma tela dinâmica imaginária
Acontecimentos passados
Palavras proferidas sem sentido
Vozes que entoam dor
Gritos de revolta
Sorrisos parcos

À distância de um instante
Quase sugada por um rodopio
De forças centrífugas
Surge-me a tua sombra
Onde estás?
Desejo profundamente
Que esta imagem não desapareça
Que permaneça eternamente
Gravada nas memórias
Do motor que teme em falecer

Sinto medo, muito medo
Que a tempestade me leve
Definitivamente de ti
E não mais possa sonhar

Já quase não consigo respirar
O oxigénio escasseia
Será a violência do vento
Ou dos remorsos?

Pudera eu reviver
Os momentos que passamos juntos
Alterar o rumo das nossas vidas
Viver corajosamente

Restar-me-ia a recordação
De um dia ter estado no teu leito
Para agora este enredo final
Não ser tão horrorosamente vazio…

Já quase não penso
Apenas sinto-te em mim…
À distância d’um instante