Transeuntes

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Já não sei para onde fugir…


Qualquer música que entoa…lembra-me a música das tuas palavras nos meus ouvidos,
Qualquer chão que pise…aviva-me a segurança do teu caminhar

Qualquer gota de chuva ou brisa de vento recorda-me o calor dos teus braços…

Qualquer cheiro másculo, faz-me desejar o teu odor…
Talvez tenhas conseguido despertar todos os meus sentidos ou accioná-los cada minuto que te dedicaste a eles…

É estranho algum dia ter acreditado que poderias existir em qualquer cruzamento de uma dessas avenidas da cidade ou até mesmo reconhecer-te num desses trilhos numa noite amena…

Quando te vi pela 1ª vez no meu horizonte pensei:
“Não, não é este”. Mas quando falaste para mim…

Imaginei que serias um dia o criador da arte que um dia seria capaz de reproduzir…
Serias para mim a minha fonte de inspiração,
O sonho realizado incessantemente desejado,
Os amigos que tantas noites passaram por mim sem qualquer “conteúdo”,
O companheiro lunar que durante tanto tempo estivera escondido por detrás da lua,
A água salgada do mar que ao beijar adoça,
O ar de inspiração que transporta o oxigénio às células,
A energia eólica que movimenta moinhos,
O gado que alegra os montes,
A brisa amena da tarde que assegura o retorno ao lar,
O morcego que dá vida às noites,
O artista que pinta telas pretas com cores garridas e com vida,
O semeador de um terreno fértil…


Hoje, neste minuto, não és mais do que uma linda estrela cadente, carregada de luz e magia que um dia pude conhecer o esplendor…


Não é meu fado poder sentir a tranquilidade da lua cheia!
A angústia do meu destino é ter-me rendido ao meu imediatismo sentimental!
E a grande dúvida reside em acreditar que outras estrelas venham amenizar o meu triste cantarolar e servir de panaceia ao mal que padeço…


30 de Setembro de 2001

Para além dos limites...


Xiuu…silêncio!

Quero concentrar-me! Já não consigo pensar para além das ruas e estradas, de norte e sul, de praças e becos…Mapas, plantas, números, pessoas, carros, buzinas, semáforos, velocidade! Ainda estou viva?

Xiuu…silêncio!

Paro neste instante…estou só finalmente. Dona do meu próprio espaço e consciente do pequeno tempo que ainda é meu. Quero navegar pela imaginação. Quero sentir que ainda sou a outra…O eu da navegação solar, estrelástica, de mundos inconcebíveis, de gente viva, de jardins de ar, de poeiras de luz, de fruta verde, de arco-íris brilhante, de chuva íntima, da terra molhada, de ruídos longínquos, da natureza mãe, de gaivotas esvoaçantes, de perfumes floris, de homens sãos!!!

Xiuu…silêncio!

Não me perturbem! Não me acordem deste éden, não quero regressar ao tempo do nada…Que nada tão profundo que é este, que nem dos minutos, que nem dos metros sou livre?! Larguem-me, deixem-me! Hoje quero o nada paradoxal! O nada do nada! O verdadeiro nada que está parado de tudo! O nada da mais pequena simplicidade. O nada do próprio sol, o nada da própria terra, porque até esses lutam contra o nada que não quero! Até os astros, até as plataformas me privam de tudo o que é absolutamente nada!

Xiuu…silêncio!

A fadiga tomou conta de mim, o ânimo perdeu-se num cruzar de estradas, num viver de um ponteiro. Mas não volto atrás, ainda correria o risco de o voltar a encontrar…Que ilusão traiçoeira que é esta corrente de forças que me transporta para o espaço terreno em que a minha vida é administrada? Que adormeça o sol, que se apaguem as luzes, que a electricidade regresse aos génios, que as máquinas sejam sonhos de engenhocas, que a ciência mal ultrapasse a antiguidade…

Xiuu…silêncio!

Estou quase a atingir os primórdios da vida…mais um esforço e quase que já nem sou porque não penso…mais uns milímetros e findo a consciência. E agora? O que virá antes? Seria já? Ou seria apenas a sombra de uma vontade Daquele que realmente É?

Xiuu…Sou Feliz!

11 de Janeiro de 2002

No rasto de mim própria...


Onde reino eu? Na metade nunca vista e sentida dos outros, no esquecimento das próprias memórias, no rastilho de pensamentos lampejantes, na saudade daqueles que já partiram da terra molhada, de areia esbranquiçada e que vagueiam…apenas o sonho da noite?

Quem sou eu? Um misto de todos, ou um eu desprovido de passado, de recordações, de dor e de fantasia…?

Que palavras expressam agora os minutos, outrora vazios de momento, vastos de eternidade?

Quantos números são necessários contar até que as combinações de gramática reflictam…o que quero, o que desejo, quem sou?

Há quantas quimeras, quantos sóis escurecidos, quantas gravidezes lunares, abandonei o antigo pisar da pena para me dedicar a teclados surdos e mudos que falam aquilo que não penso e escutam apenas o que digo…sem nunca adivinharem quem eu sou!?

Quem eu sou? Quem eu fui? Quem eu serei?
Sou…aquela que fui num qualquer segundo…do “serei”?

Ou antes, sou um “serei” que vagabunda na frustração de nunca ter chegado a ser o que fui quando quis SER!


1 de Abril de 2003