Transeuntes

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Filhos da Corrente


Bloqueios constantes
Interferências ininterruptas no silêncio
Cortes imprevisíveis
Cabos longínquos
Cargas eléctricas diárias
Trespassam as cores do céu
Percorrem Quilómetros
Transportando feixes de luz
Encurtando distâncias
Estabelecendo pontes entre mundos
Fortalecendo redes de conhecimento
Projectando sociedades inovadoras.
De central em central,
Emarenhados em postes esguios,
Povoam, os fios, o horizonte
Pastorício, citadino, baldio e de arramaldes,
Conhecem nascentes, convivem com linhas de água,
Adormecem acordados na sua foz,
Cavalgam montanhas, descansam em planícies,
Aliviam a sua tensão em dias de trovoada
Pedem à chuva que lhes limpe as teias
E ao sol a possibilidade de descanso.
Nos seus corpos carregam sons indecifráveis,
Vozes de um mundo cosmopolita,
Línguas faladas pelos humanos...
Insultos gratuitos, confissões de amor,saudades infindáveis
Às rajadas pedem tréguas
E aos quadrantes vários pequenos devaneios
Liberdade de sentir para além dos limites...
Sujeitos ao olhar de curiosos que os despem
Condenados à separação dos seus companheiros
Sem autoridade no seu destino,
Partem para mais uma funcionalidade,
Quem sabe se nobre ou cruel?
Limitados às vontades alheias
Podem ser famosos ou lixo de sucata
Nasceram de uma máquina sem nome
Conscientes da sua utilidade,
Questionam a sobrevivência dos filhos da corrente
Sem a sua acção permanente...