Transeuntes

domingo, 13 de julho de 2008

A uma só voz

À voz encravada do nó na garganta
Ao silêncio profundo de uma conversa,
Às palavras-chave ocultas num discurso,
Ao tempo que nunca existe para escutar,
dedicarei uns minutos…?

Aos gestos de apelo de socorro,
Aos sinais evidentes de desespero,
Às cabeças cabisbaixas que deambulam,
À incapacidade de traçar um rumo,
dedicarei uns minutos…?

Às gargalhadas que espelham tristeza,
À resistência afectiva que constrói muralhas,
Ao orgulho que recusa um ombro,
À educação racionalista edificada,
dedicarei uns minutos…?

À incerteza da motivação que dá vida,
Aos sonhos destruídos pela perda,
À saudade de um passado fantasmagórico,
Ao desejo de reviver incessantemente memórias,
dedicarei uns minutos…?

À descrença de um devir feliz,
Ao desejo de vingança,
À mágoa persistente não perdoada,
Ao eu tolhido na escuridão
dedicarei uns minutos…?

Ignorarei os resultados desses minutos,
saboreando o prazer da partilha,
da sensação de supressão de barreiras humanas,
e da abundância da divisão de amor multiplicado?

Esquecida de mim mesmo,
disponível para escutar,
a uma só voz,
o adágio angustiante da solidão...

Serei capaz?