Transeuntes

sábado, 24 de setembro de 2011

Tempestades Imprevisíveis


Eis-nos plantados à beira rio sendo árvore sem fruto
Esperando o radiar dos dias
Aguardando a tristeza da natureza para regar as nossas raízes
Num tempo longo e penoso,
Em terrenos cuja fertilidade estranhamente não sucedeu

Sobrevoando a paisagem,
Somos apenas um pequeno ponto verde
Um suporte de ninhos de aves primaveris
Um escasso sopro de oxigénio
Tentando sobreviver às tormentas
De um pé enterrado
Em lençóis irrequietos e ansiosos
Por baptizar os solos que nele assentam

Todos os dias nascem novas ramificações
Espreitando a medo as intempéries
Receando a imensidão do tempo
Que transforme o sonho no nada nunca acontecido

Gritamos aos céus
Que fomos feitos para amar
Um ao outro e ao nosso rebento
Que entre todas as agruras da vida
Nascemos para transbordar
As nossas entranhas mais profundas

Quem dera que entre tantos vendavais
Este fosse apenas mais um
E que nunca o amanhã reclame
Há sonhos que não podem ser…

Que este anseio
Nunca exclame
Que a vida matou o sonho
Que hoje nos dá um motivo
Para suportar esta demora interminável!

sábado, 3 de setembro de 2011

A instantes de te perder…


Neste instante em que as palavras se desprendem
Aprisiono a razão, liberto os turbilhões, procuro um refúgio
Onde possa sentir espontaneamente,
O vácuo que se instalou em mim
Sinto as teclas de um piano interior
Que melodicamente entoa os sons de um pretérito
Que hoje reconheço imperfeito
Interrompidos por curtas e intempestivas aragens
Fugazmente importantes
Distraidamente, caí nas teias da ilusão da razão

Neste instante em que procuro encontrar
O fio do novelo que te levou até mim
E que me tornou prisioneiro de ti
Eis-me a desejar o extremo da outra ponta
Que te soltou de mim

Neste instante em que busco
O milésimo de segundo que fragmentei
Os inquebráveis nós que nos uniam
Corro velozmente o tempo
Na esperança de um outro final

Neste instante em que me defronto
Com o lugar vazio que incessantemente te deixava
Questiono a importância de todos os minutos na tua ausência
E de todos os passos que me de ti separavam

Neste instante em que me agrido
Com a culpa que me pertence
Vejo-te como aquela pessoa
Que um dia me fez sentir nos céus
Com a serenidade das suas asas

Neste instante em que me perco
Nas quase esquecidas loucuras diabólicas
Alimentadas por fantasmas
Nutridas pelos prazeres do mundo
Que agora sei falaciosos
Relembro-te com tanta genuidade

Neste instante em que me dispo
De um dia igual a tantos outros
Em que procuro um vestígio de ti
Um fio do teu cabelo
Ou apenas um resquício do teu cheiro
Sei que sacrificaria anos da minha existência
Por apenas mais um dia contigo

Neste instante em que sobrevivo
À escuridão de mais uma noite
Rezo à lua para te levar o meu amor
E às estrelas para serem o teu regaço
Agora que os meus braços
Já não te pertencem

Neste instante de horror, acordo!
Olho em volta e vejo-te
Linda, tranquila e dormindo
O sono dos inocentes
Trago-te para mim, afago cada pormenor teu
Subitamente, ei-los a desapareceram
Os meus fantasmas!
Sinto o extremo da ponta do lencól
A trazer-te até mim

Neste instante perco-me em ti
Encontro-me na imensidão
De um caos que hoje é apenas
A ordem: Amar-te!






quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Amor a Portugal


O mais saudoso pedaço de terra
No ranking da pacificidade da esfera azul
Entre a lista dos mais humanamente desenvolvidos
Desbravado pelo sangue do mundo
Herdeiro de genes plurifacetados
Transportando a garra do guerreiro lusitano
A robustez do ferro dos Celtas
A língua tartéssica dos fenícios
A capacidade de exploração da terra dos Suevos e Visigodos
A língua portuguesa do latim grego-romano
A inovação tecnológica e científica dos Mouros
A capacidade de adaptação à mudança por imitação dos Judeus
A aptidão para o trabalho intenso da escravatura africana
Eis-nos portugueses, cidadãos da gente do mundo
Decididos a levar a nossa audácia
Aos quatro quadrantes do mundo
Primeiro enquanto agentes da fé e da globalização
Assombrados por temerosos monstros
Ávidos de conhecimento e de pão,
Depois na qualidade de colonizadores
Sequiosos de riqueza e de império,
Mais tarde retratados na história da diáspora portuguesa
Com destino à Europa mais próspera
Resistentes a grandes fardos de labuta!

Porém, com a integração na Grande Europa
Instalou-se a promessa
De um fácil desenvolvimento
De uma riqueza progressiva e duradoura.
Arrastados por uma cultura de facilitismo
Embriagados por um lucro imediato
Ignoramos anos da nossa história
Queimamos os nossos pergaminhos
Rejeitamos os legados mais profícuos
Desta sorte de ser português.

Quem nós éramos?
Livres pensadores e convictos
Que o fado se escreve em português
Que a poesia nasceu dos mares por nós navegados
Que o perigo e o abismo eram apenas transponíveis
Nos simples corações de alma lusitana!

Desta escada escorregadia
De feitos gloriosos e de desmoronamentos constantes,
É imperioso remontarmos ao ponto de partida
À essência que nos faz cumprir o amor a Portugal!