Transeuntes

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Esplendor


Há momentos na vida que a ordem das coisas se inverte
Caminhamos nos céus
Pensamos acorrentados às poeiras terrestres
Os nossos pés voam sem sentido
E os nossos neurónios rastreiam cegamente sem horizonte

O volume das nuvens pesa tanto
Sob os pés cansados,
O piso molhado já não consegue enxaguar lágrimas de um rosto
Que se misturam sob emaranhados de lixo flutuante

A cor dos dias parece prestes a findar num cano de esgoto
Subitamente, rasga-se um fecho num céu
O negrume do tecto já não consegue compor-se
Entrevê-se um feixe de luz
As trevas lutam pelo império!

Mas é aos anjos divinos que as harpas obedecem
É chegada o momento de socorrer o que o tempo transformou em nada
A misericórdia Daquele que É aguardou pelo momento

Em que o milénio de segundo alinha o sol, a terra e a lua
Consagrando a sua vontade e realizando o milagre

Já nada pode impedir o vislumbre majestoso do arco-íris
O esplendor de um céu em pavão
Ansioso pelo júbilo da vitória
Vanglorioso pela conquista da esperança

Às tormentas de um semblante ensanguentado
Perfumou as pétalas de ti
Ordenou ao vento que as trouxesse até mim

Alimentei-me dias e dias deste néctar
Misturei-o na minha pele
Para que jamais o pudesse perder

Procurei o seu rumo,
Perguntei aos pássaros por ti
Guiei-me pelo faro da natureza
Encontrei-te no último canto do mundo

O teu odor cicatrizou todas as fendas
Os teus braços suportaram todos os choros
As tuas mãos afagaram todas as dores
Os teus olhos serenaram todos os receios
O teu corpo alimentou a minha alma
A tua alma completou a minha

Hoje já não imaginaria viver sequer sem a tua sombra

Amo cada bocadinho de ti, na dimensão do infinitamente grande.